segunda-feira, dezembro 31, 2007

Iowa, a três dias

Estamos em pleno dark side of the moon. Mas é evidente que, nos estudos mais recentes, Clinton e Edwards sobem e Obama desce. Como sempre, o Pollster analisa tudo o que é importante:

- o desempenho passado das sondagens no Iowa;
- os efeitos do processo de caucus em fortalecer os dois candidatos da frente e prejudicar os afectados por quedas recentes. À luz dos dados mais recentes, isto é muito bom para Clinton e potencialmente mau para Obama.

sábado, dezembro 29, 2007

O ano eleitoral

2008 não será particularmente excitante. A excepção é o main event, nos Estados Unidos, que dura o ano todo. Começa já no dia 3 de Janeiro, no Iowa. Cinco dias depois é New Hampshire. Dia 5 de Fevereiro temos a Super Duper Tuesday. Por esta altura, já estará tudo decidido quanto aos candidatos à presidência de cada partido. Depois é gastar até ao dia 4 de Novembro. Em 2004, gastaram-se (oficialmente) mil e quatrocentos milhões de dólares, 0,7% do produto interno bruto português. Neste ciclo de 2008, para já, vamos em 426 milhões.

Salva-se também Espanha, em Março. A sondagem mais recente, do Instituto Opina, dá 45% ao PSOE, 8 pontos acima do PP, e a satisfação com Zapatero está acima dos 50 pontos. Mas as coisas podem não ser tão simples. O barómetro de Novembro do CIS dá apenas 2 pontos de vantagem ao PSOE e, mesmo se a vitória do PSOE parece provável, duvida-se de uma maioria absoluta.

Na Rússia, eleições presidenciais a 2 de Março. Dimitry Putin, desculpem, Vladimir Medvedev lidera as intenções de voto, com 40 pontos de vantagem sobre o segundo classificado, um senhor chamado Zhirinovsky. Vai ser emocionante. No Zimbabwe, também em Março, Mugabe concorre a um sexto mandato, e em Setembro (5 e 6), haverá legislativas em Angola. Vai ser tão emocionante como na Rússia.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Iowa e New Hampshire update, a uma semana

1. Nos Democratas, uma sondagem recente do American Research Group dá uns espectaculares 14 pontos de avanço a Hillary Clinton sobre Edwards em Iowa, com Obama em terceiro. A confirmar nos próximos dias. Mas no Pollster, uma nota importante: o ARG tem dado resultados para Clinton sempre acima da tendência. Seja como for, os mercados electrónicos de futuros parecem ter levado a sondagem a sério: Obama desce e Clinton sobe no Intrade.

2. Nos Republicanos, Huckabee parece imparável, quer nas sondagens quer nos mercados electrónicos: a estimativa Franklin e Blumenthal para Huckabee, neste momento, é de 34%, contra 23% para Romney. No Intrade, Huckabee é absolutamente favorito. Mas há uma tendência recente para a diminuição da vantagem de Huckabee, que os mercados parecem não ter detectado (ou não levar ainda a sério).

3. Dito isto, duas precauções gerais sobre Iowa:
- as sondagens mais recentes estão potencialmente afectadas pelo período festivo. Polling on the dark side of the Moon, chama-lhe Blumenthal;
- as sondagens para um caucus, com baixíssima participação, estão sempre potencialmente afectadas pela dificuldade em estimar os votantes prováveis.

4. Em New Hampshire, Clinton e Obama praticamente empatados, se não contarmos, mais uma vez, com a sondagem ARG (que dá grande vantagem para Clinton). Mas tudo vai ser afectado pelo resultado de Iowa. E a grande notícia vem dos Republicanos: a subida de McCain, que já aparece empatado com Romney numa das sondagens.

5. E há quem esteja farto de ver as primárias americanas tão poderosamente afectadas por eleições em dois estados pequenos e não representativos (G. Terry Madonna e Michael Young, "Iowa e New Hampshire: Same Old, Same Old"):

"The entire nominating apparatus is again fixated on Iowa and New Hampshire, resulting in more candidate visits than ever; more media coverage than ever; more TV commercials than ever; and more money spent than ever. Once again the outcome of a presidential race may depend on the results of two small unrepresentative states";

"When the early states vote, many voters in other states not have thought deeply about their choices. But the intense and concentrated coverage for Iowa and New Hampshire introduce candidates to a national electorate as de facto "winners" or "losers" before more than 90% of voters can cast ballots."

sexta-feira, dezembro 14, 2007

14%

Rússia, VCIOM, 5-6 Maio, N=1600

Recently, Russia was criticized for human rights violations by the US Department of State. Why do you think the US Department of State criticized Russia? (up to two responses):

Because the US are disatisfied with Russia being independent and are looking for excuses to discredit Russia: 40%
Because of the US traditional preconceived attitude to Russia and Russians: 27%
To support westernized opposition forces in Russia:16%
Because human rights are often violated: 14%
Other:1%
Hard to answer:14%

Perguntas directas, respostas directas

Rússia, Nov. 20-23, Yury Levada Analytical Center, N=1600.

Do you agree or disagree with this statement? - "Maintaining order is very important, even if democratic principles and personal freedoms are trampled."

Agree: 69%
Disagree: 18%
Hard to answer: 13%

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Referendos e ditaduras

E no meio da conversa que houve há uma semana sobre as "estranhas ditaduras" onde se perdem referendos, esqueci-me do melhor exemplo de todos.

Da Wikipedia:
The Zimbabwe constitution referendum of February 12-13, 2000 saw the defeat of a proposed new Constitution of Zimbabwe which had been drafted by a Constitutional Convention the previous year. The defeat was unexpected and was taken as a personal rebuff for President Robert Mugabe and a political triumph for the newly-formed opposition group, the Movement for Democratic Change. The new proposed constitution was notable for giving power to the government to seize farms owned by white farmers, without compensation, and transfer them to black farm owners as part of a scheme of land reform.

E a seguir:
DESPITE its humiliating defeat in last weekend's constitutional referendum, the Zimbabwe government said yesterday that it would push through an amendment that would allow the state to seize white-owned farms without compensation.

O resto já sabemos como foi.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Popularidade Sócrates e Cavaco




Marktest, 20-23 de Novembro

Há dias, mencionei aqui que o DN não tinha publicado os resultados completos do Barómetro, nomeadamente em relação à avaliação dos líderes políticos. Mas a Marktest, como é hábito, põe tudo cá fora. Está aqui. E ainda tiveram a amabilidade de me cederem dados mais desagregados:

Cavaco Silva
Actuação positiva: 70%
Negativa: 12%
Ns/Nr: 18%

José Sócrates
Actuação positiva: 38%
Negativa: 45%
Ns/Nr: 17%

Luis Filipe Menezes
Actuação positiva: 27%
Negativa: 26%
Ns/Nr: 47%

Jerónimo de Sousa
Actuação positiva: 38%
Negativa: 31%
Ns/Nr: 31%

Paulo Portas
Actuação positiva: 28%
Negativa: 49%
Ns/Nr: 23%

Francisco Louçã
Actuação positiva: 42%
Negativa: 31%
Ns/Nr: 27%

Obrigado.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Al Gathafi speaks...

Miguel Vale de Almeida chama a atenção para um anúncio de página inteira no Público que convida os eleitores a visitarem o site de Muammar Al Gathafi e onde se fazem umas considerações críticas à Convenção de Otava sobre Minas Terrestres ("Os países poderosos não precisam de minas para se protegerem. As minas são o meio de auto-defesa dos países fracos") e sobre a "ilegalidade do Tribunal Criminal Internacional".

Não quero estragar completamente o dia a Miguel Vale de Almeida, mas se ele soubesse que o Centro de História da Universidade de Lisboa, "em colaboração com a Reitoria e com o Instituto Luso-Árabe para a Cooperação", vai organizar depois de amanhã um "Seminário" com a presença de Muammar Al Gathafi (ou Al Khadafi) onde ele vai falar sobre "Problemas da Sociedade Contemporânea"... Ai não acreditam? Então confirmem.

Iowa

Em rigor, já não se pode dizer que Hillary Clinton lidera as sondagens no Iowa. A média das 13 sondagens conduzidas em Novembro é de 28% para Clinton e 25% para Obama. Mas quando olhamos apenas para as conduzidas na 2ª metade do mês, Clinton e Obama estão empatados com 27%.

Em New Hampshire, a mesma tendência. Clinton com 35% em média em Novembro, Obama com 23%. Mas na segunda metade do mês, 33% para Clinton e 24% para Obama. Aqui a margem ainda é confortável. Mas quem sabe o que se passará no Iowa, e as consequências disso?

Karl Rove, no Finantial Times (via Atlântico, onde ainda cheira um bocado a queimado), partilha pelos vistos da opinião (ah, ah!) que dei aqui em Outubro: Iowa é a única e derradeira chance que Obama tem para evitar o inevitável. Mas por que razão gostaria Rove de evitar este inevitável? Aposto tudo o que vocês quiserem que a campanha Clinton vai usar este artigo para mostrar que Rove e os Republicanos gostariam que Obama ganhasse. No meio da crise, um ponto para Hillary, portanto.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Ainda a Venezuela e a "democracia", pós-referendo

A principal razão por que me interessa discutir se a Venezuela é ou não uma democracia é talvez um pouco diferente daquela que move alguns dos que têm debatido esta questão na blogosfera e fora dela. É evidente que não simpatizo com os atropelos de Chávez e que , independentemente dos benefícios ou não que tenham decorrido da sua governação para os venezuelanos (um aspecto sobre o qual se presume muito e demonstra pouco), acho que viver em democracia é um bem em si mesmo, algo intrinsecamente positivo.

Mas para além desta motivação assumidamente política, tenho outra, que talvez até seja mais importante para mim. Quando quero perceber, na minha actividade profissional, o que causa a emergência ou a sobrevivência das democracias, quais as consequências de se ter ou viver num regime democrático, ou a explicação dos comportamentos políticos nas democracias, convém-me ter no bolso pelo menos uma definição qualquer de "democracia", para saber que casos devo incluir, que casos excluir ou como os classifico. Num sentido mais lato, esta discussão continua a ser "política". Mas num sentido mais estrito, é uma questão de medição. O que é e o que não é uma democracia? Questão complicada, mas que tenho de quotidianamente tentar resolver.

Vem tudo isto a propósito dos resultados do referendo e de algumas reacções que inspiraram. Particularmente simbólica é esta:

"Estranha ditadura que promove eleições e que aceita os resultados quando é derrotada nas urnas. (...) Estranha ditadura em que a pobreza diminui e em que os estudos internacionais mostram que a maioria esmagadora dos eleitores está contente com a qualidade da democracia",

escreve Nuno Ramos de Almeida no cinco dias.

Pois lamento, mas ainda não estou persuadido. Tenho visto aqui e ali referências ao Chile, e acho que podemos começar por aí. Por um conjunto de razões que ainda se discutem, o referendo acabou mesmo por ser convocado em 1988, permitiu uma votação sem fraudes e os seus resultados - inesperadamente desfavoráveis para Pinochet - foram aceites pelos militares. Foi o início da transição para a democracia no Chile. Mas daí até dizer-se que o Chile era uma democracia em 1988 ou até em 1987, 1986 ou antes vai alguma distância, que pelos vistos Nuno Ramos de Almeida tem alguma dificuldade em discernir. Esta ideia de "validação" à posteriori do carácter democrático de um regime, através da qual se classifica como democrático todo o regime no qual o detentor do poder acaba por perder eleições, não deixa de ter um bom pedigree. Este belo livrinho usa-a, precisamente, para distinguir democracias de regimes não-democráticos. Mas se queremos ir por aqui e seguir os critérios de Przeworski e seus colegas, então temos de esperar que Chávez perca eleições presidenciais. Não me consta que tenha sido isso que sucedeu no passado Domingo.

De resto, é curioso que se mencione o caso do Chile e ninguém se tenha lembrado do caso...português. Em 1975, com alguma surpresa, quem ganhou as eleições não foi quem controlava as rédeas do poder. As eleições de 1975 tiveram, aliás, o condão especial de revelarem que o PCP e os sectores mais à esquerda do aparelho militar que tutelavam na altura o regime tinham muito menos apoio popular do que se julgava. Mas a não ser que Nuno Ramos de Almeida esteja preparado para nos explicar como, em 1975, Portugal era um regime democrático- coisa que, manifestamente, (ainda) não era - a derrota eleitoral dos detentores do poder não chega para definir um regime.

Chamo a atenção para um conjunto de estudos de Steven Levitsky e Lucan Way (obrigado Andrés pela lembrança). Levitsky e Way vêm escrevendo sobre aquilo que chamam "autoritarismos competitivos". Vale a pena ler com atenção:

"In competitive authoritarian regimes, formal democratic institutions are widely viewed as the principal means of obtaining and exercising political authority. Incumbents violate those rules so often and to such an extent, however, that the regime fails to meet conventional minimum standards for democracy. (...) Competitive authoritarianism must be distinguished from democracy on the one hand and full-scale authoritarianism on the other. Modern democratic regimes all meet four minimum criteria: 1) Executives and legislatures are chosen through elections that are open, free, and fair; 2) virtually all adults possess the right to vote; 3) political rights and civil liberties, including freedom of the press, freedom of association, and freedom to criticize the government without reprisal, are broadly protected; and 4) elected authorities possess real authority to govern, in that they are not subject to the tutelary control of military or clerical leaders. Although even fully democratic regimes may at times violate one or more of these criteria, such violations are not broad or systematic enough to seriously impede democratic challenges to incumbent governments. In other words, they do not fundamentally alter the playing field between government and opposition. (...) In competitive authoritarian regimes, by contrast, violations of these criteria are both frequent enough and serious enough to create an uneven playing field between government and opposition. Although elections are regularly held and are generally free of massive fraud, incumbents routinely abuse state resources, deny the opposition adequate media coverage, harass opposition candidates and their supporters, and in some cases manipulate electoral results. Journalists, opposition politicians, and other government critics may be spied on, threatened, harassed, or arrested. Members of the opposition may be jailed, exiled, or—less frequently—even assaulted or murdered. Regimes characterized by such abuses cannot be called democratic."

E há um artigo interessante na Foreign Policy de Janeiro do ano passado que explora a aplicação do conceito ao caso da Venezuela.

Há muita gente que discorda de Levitsky e Way. Não quero com tudo isto desvalorizar os resultados do referendo de Domingo passado, nem aquilo que eles nos podem dizer sobre a natureza do regime ou as suas perspectivas de mudança e evolução. Nem sequer estou certo se consigo, para já, chegar a um veredicto sobre se a Venezuela é ou não é uma democracia. Mas não me parece que perder um referendo chegue, por si só, para esse veredicto.

sexta-feira, novembro 30, 2007

Dados em falta

Como sabem, não dou grande cobertura neste blogue a sondagens sobre intenções de voto em períodos fora das eleições. Uma percentagem muito elevada de eleitores não manifesta qualquer intenção e isso produz grande volatilidade e discrepâncias entre sondagens. Acho muito mais interessante, neste período, analisar as perguntas a que quase toda a gente responde, e que têm a ver com avaliação do desempenho do governo, da actuação dos líderes políticos ou da situação da economia. Como nem a primeira nem a última perguntas são regularmente colocadas, ficamos com a segunda.

Vem tudo isto a propósito do Barómetro Marktest divulgado hoje. Ao contrário do que é habitual, o DN não publica as avaliações de Sócrates, Cavaco e Menezes, limitando-se à intenção de voto e avaliações de ministros. Há alusões no texto às avaliações de Cavaco e Portas, mas os dados não foram colocados cá fora. Espero que ainda sejam.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Rescaldo

O rescaldo do debate CNN/You Tube entre os candidatos republicanos. Ou como "Mo" Udall disse uma vez do seu próprio partido: "When Democrats organize a firing squad, they form a circle."

quarta-feira, novembro 28, 2007

Iowa, New Hampshire, CNN e You Tube

Com as primárias no Iowa e em New Hampshire a pouco mais de um mês, o dramatismo aumenta. No Iowa, como se vê por aqui, Clinton e Obama destacam-se. Mais: nas duas últimas sondagens, Obama está a par ou até à frente de Clinton. Mas são apenas duas sondagens e, em New Hampshire, a vantagem de Clinton é mais confortável.

Com os Republicanos, o incrível prepara-se para acontecer. Mitt Romney lidera as sondagens no Iowa seguido de...Mike Huckabee. Nem Giuliani, nem Thompson, nem McCain. E em New Hampshire, é também Mitt Romney que lidera, com grande vantagem.

Hoje, a CNN repete o bem sucedido formato de debate com perguntas em video introduzidas no You Tube. O debate Democrata foi muito importante para confirmar a liderança de Clinton e Obama (e serviu para abrir as hostilidades entre ambos). O debate de hoje pode ser igualmente importante.

P.S.- 4927 perguntas introduzidas no You Tube para os candidatos republicanos. Será que, nas próximas eleições em Portugal um dos canais irá tentar copiar este formato?

domingo, novembro 25, 2007

Sabemos quando a vemos?

Tenho tido uma conversa com o Daniel Oliveira, do Arrastão, que entretanto ganhou ramificações noutros blogues: aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui. Sem contar com os e-mails que vou recebendo. Esta conversa alargada já se transformou num debate sobre o que é a democracia, a relação entre democracia e cultura política, a natureza dos direitos políticos, a qualidade das democracias e o liberalismo, ou seja, tudo temas leves. Em vez de responder aqui, respondo amanhã, no Público (e depois de amanhã aqui). O ponto, de resto, é muito simples: é cada vez mais difícil distinguir a democracia de outros regimes; é cada vez mais importante fazê-lo.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Ainda a Venezuela e a "democracia"

No Arrastão, Daniel Oliveira escreve sobre o conceito de democracia, as condições favoráveis ao seu "aprofundamento" ou "qualidade" e sobre a aplicação dos pontos anteriores ao caso da Venezuela. Não posso nem quero discutir todos os pontos, mas há um que me parece central. Segundo o Daniel, na ponderação da designação de um determinado regime como ditadura ou democracia temos de tomar em conta não apenas a nossa avaliação mas também a avaliação subjectiva daqueles quer vivem sob esse regime.

"O passo que se dá para passar a chamar ditadura a um regime (partindo do principio que quem lhe chama outra coisa o está a apoiar) é, para mim, um passo que deve ser ponderado. E nessa ponderação deve contar a nossa avaliação mas também a avaliação daqueles que vivem nesse regime."

O meu ponto fulcral de discordância está precisamente aqui. Quando abordamos estes assuntos, quanto mais não seja por questões de rigor analítico, não convém confundir num único conceito diferentes dimensões da realidade. Se eu tiver uma definição de "democracia" - como o Daniel pelos vistos tem ("eleições livres, liberdade de organização, liberdade de expressão, liberdade de imprensa e separação de poderes") - eu posso dizer se a Venezuela é ou não uma "democracia" independentemente daquilo que saiba sobre as opiniões subjectivas dos cidadãos venezuelanos. E a resposta é simples: não é. Um país onde há abundantes casos documentados de intimidação dos eleitores pelo governo, de silenciamento de meios de comunicação social oposicionistas, onde a lista de signatários do referendo anti-Chávez é usada activamente para discriminação no acesso à função pública, onde associações financiadas por países estrangeiros são perseguidas e onde não há controlo civil do aparelho militar não pode ser vista como uma democracia nos termos da definição do próprio Daniel.

Para quê misturar isto com a avaliação subjectiva dos eleitores ou com indicadores de desempenho económico ou social? Nada nos impede de, depois de constatarmos que a Venezuela deixou de ser um regime democrático, constatarmos também que Chávez tem muito apoio popular, que o nível de "satisfação com a democracia" é muito elevado ou até que as desigualdades sociais ou a pobreza possam ter diminuído (não sei se é assim, mas para o caso não interessa). Ou podemos até chegar à conclusão que muitos dos "democratas" que se opõem a Chávez também não são flor que se cheire. Não sei. Mas separar as coisas é condição indispensável para percebermos, por exemplo, se há relação entre umas e outras. Não posso é meter tudo isto dentro de um mesmo conceito. Em todos os inquéritos deste género, o país no mundo onde o nível de "satisfação com a democracia" é mais elevado é Singapura. Devemos então achar que Singapura é uma democracia só porque os cidadãos acham que aquilo é uma democracia e estão satisfeitos? E como lidamos com o enorme apoio popular a Putin na Rússia? Ou o apoio das classes médias chinesas ao regime e ao partido?

Depois, a questão do "consenso". Ter-me-ei explicado mal, mas tento corrigir. Na maior parte das "democracias ocidentais", também não há consenso sobre o que significa "democracia". Há quem ache que "eleições livres, liberdade de organização, liberdade de expressão, liberdade de imprensa e separação de poderes" são condições suficientes. E há quem ache que são condições necessárias mas não suficientes, fazendo-as acompanhar de "condições para que cada individuo possa determinar o rumo a dar à sua vida através das suas escolhas pessoais e da participação nas escolhas colectivas". Tudo bem. Contudo, o ponto sobre a Venezuela (e muitas novas democracias, "semi-democracias" ou "semi-autoritarismos") é outro: pelos vistos, há muita gente para quem "eleições livres, liberdade de organização, liberdade de expressão, liberdade de imprensa e separação de poderes" não são nem suficientes nem necessárias para que considerem o regime uma "democracia". E isso é importante saber, especialmente porque essas condições "culturais" estão fortemente relacionadas com a criação de oportunidades para lideranças autoritárias, golpes, e uma geralmente baixa qualidade da democracia.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Sobre a "satisfação com a democracia" na Venezuela

No Arrastão, há um gráfico retirado do Economist (a fonte original é o Latinobarómetro) onde se mostra um nível elevado de "satisfação com o funcionamento da democracia" na Venezuela hoje em dia e um aumento muito pronunciado dessa satisfação desde 1996. O Daniel Oliveira é cuidadoso na interpretação desses resultados, não retirando deles uma justificação para os atropelos de Chávez e assinalando apenas que se trata da avaliação subjectiva da população. Mas há mais cuidados a ter. O relatório do Latinobarómetro (.pdf) tem uma considerações muito interessantes sobre o fenómeno. Cito algumas:

"(...) El mundo que la [Venezuela] observa la evalúa mal en un doble sentido: se le reprocha los límites al ejercicio de la libertad y las limitaciones impuestas a las instituciones políticas. Sin embargo, la percepción de los venezolanos es positiva, y causa mucha perplejidad, pues ellos declaran que les gusta la democracia como está en estos momentos, al menos mucho más que lo que dicen otros ciudadanos de otros países respecto de su propia democracia, en los cuales el mundo externo no critica la falta de libertad, ni el acoso a ciertas instituciones. Venezuela un país dividido por dos conceptos de democracia. Pero todos quieren ser llamados demócratas, incluso los que apoyan medidas no democráticas. Pocos pueden comprender desde afuera por qué tienen una visión positiva de la democracia. Lo que se observa desde afuera de un país, no necesariamente concuerda con la opinión que tienen los ciudadanos de ese país con respecto a lo que ellos están viviendo."

Sobre um outro dado - os venezuelanos são os latino-americanos mais de acordo com a ideia de que as privatizações foram positivas para o país:

" Nuevamente, el optimismo venezolano en este caso con las privatizaciones no solo es incongruente con el discurso político de izquierda de su gobernante, es contradictorio con los indicadores objetivos de las mejoras económicas de la población de ese país. Venezuela parece vivir un tiempo de sobre optimismo que eleva sus evaluaciones, expectativas y opiniones"

E sobre o facto de, apesar disso, os venezuelanos serem dos latino-americanos que se tornaram mais críticos em relação à "economia de mercado" nos últimos anos:

"Especialmente interesante es ver el caso de Venezuela, donde hay una gran mayoría que apoya la privatizaciones, 61% pero a la vez se fustiga el mercado con solo un 47% y hay insatisfacción con la economía (26%). Como ya decíamos mas arriba, Venezuela es un país donde las opiniones no concuerdan con la realidad objetiva, donde el clima de opinión produce contradicciones con ella. El liderazgo discursivo de Chávez hace que se creen climas de opinión sobre ciertas materias, pero estas de alguna manera no cambian las actitudes hacia todos los temas, sino solo hacia aquellos que mencionan, produciéndose contradicciones entre las respuestas. Chávez no ha fustigado las privatizaciones en específico, por lo que ellas no están afectadas por ese liderazgo discursivo, mientras que si ha atacado el mercado que si se ve afectado. Es una opinión pública dominada por esos climas de opinión que terminan siendo más coyunturales y más volátiles."

Há aqui dois pontos muito interessantes. O primeiro é sobre a forma como as elites políticas e o seu discurso condicionam a opinião pública - ou a expressão de opiniões através de inquéritos. O outro é sobre o que significa "democracia". Já em 1999, através do World Values Survey, se via uma coisa muito interessante na Venezuela: 91% (mais do que em Portugal, por exemplo) achavam que "a democracia é a melhor forma de governo"; mas apenas 49% achavam que "um líder forte que dispensasse eleições e o parlamento" era uma coisa "má" ou "muito má" para o país. Este tipo de padrão é muito comum, por exemplo, nos países africanos estudados pelo Afrobarómetro: alto apoio à democracia, mas baixa rejeição de soluções autoritárias. Para quem quer medir a real "legitimidade" dos regimes democráticos (como nós os entendemos) e o real grau de consolidação de um regime democrático, a rejeição do autoritarismo começa a ser, cada vez mais, um indicador superior à mera declaração de "apoio à democracia".

Assim, quando o Daniel diz "a democracia é isto", eu diria outra coisa: é isto um regime onde não há consenso sobre o que significa "democracia".

sexta-feira, novembro 16, 2007

Meet Mitt

Giuliani ainda lidera a nível nacional nas sondagens para as primárias republicanas. Mas nas cruciais primárias do Iowa e de New Hampshire quem está a ficar cada vez mais bem colocado (e com tendência de subida em todas as "primeiras primárias") é este senhor:


Meet Mitt.

Dois pontos adicionais sobre as sondagens

Este correctíssimo post do A Pente Fino talvez não fosse necessário se:

1. Houvesse um local onde se pudesse consultar uma sondagem com algum detalhe, não apenas as suas características técnicas mas também, por que não, as estatísticas descritivas básicas (não era preciso mais que as frequências de resposta a cada pergunta);

2. Se os meios de comunicação social decidissem investir em formar jornalistas com competências mínimas para escreverem sobre sondagens.

Disto isto, a verdade é que muitos institutos de sondagens já poderiam ter, por sua iniciativa, começado a dar essa informação. É possível que, nalguns casos, se aguarde uma iniciativa da ERC. Ou que noutros se esteja a adiar isto por não ser uma prioridade de investimento. Mas posso dizer que o CESOP vai começar a fazê-lo em breve num site novo, em que, pelo menos para as sondagens político-eleitorais, vai disponibilizar:

1. O texto completo e ordem das perguntas;
2. Uma ficha metodológica completa;
3. As frequências relativas de resposta a cada questão.

A ver se no início de 2008 a coisa é colocada no ar.

A regulação das sondagens

Só pude assistir a dois painéis da conferência que a ERC organizou sobre a regulação das sondagens. Ao que parece, terei perdido o mais divertido, o do dia 14 de manhã, em que participaram alguns deputados. Um deles terá proposto que, para evitar a multiplicação de "erros", "fraudes" e "manipulações" em que o sector é, pelos vistos, pródigo, se deveria criar um "instituto público" dedicado a realizar sondagens, sob a dependência (sic) da Assembleia da República. Outro terá defendido o agravamento de multas a aplicar aos institutos de sondagens, sugerindo que a ERC passe também a utilizar como parâmetro da aplicação desses multas o grau de precisão com que as sondagens "acertam" nos resultados eleitorais.

Não vale a pena perder muito tempo a comentar estas duas pérolas. O exemplo do Centro de Investigaciones Sociológicas em Espanha, se os nossos deputados o conhecessem, talvez tivesse chegado. O CIS, dependente do governo espanhol, cumpre - como também foi explicado ontem por um membro da audiência - uma função importante, a de realizar inquéritos por questionário sobre temas de interesse público e académico. Mas quando se mete em sondagens político-eleitorais a coisa, geralmente, corre mal. Não é nem mais "preciso" nem "impreciso" que os privados e tudo o que faz é encarado - justa ou injustamente - sob um princípio de suspeição de favorecimento do governo do dia. Como assinalava Rui Ramos ontem à tarde, se se pusesse um "instituto público" a fazer as sondagens eleitorais, então é que nunca mais ninguém acreditava nelas. Sobre as multas para quem "não acerta", enfim, que dizer? Eu proponho que da próxima vez que um jornal pedir a um painel de economistas que faça previsões económicas para o ano seguinte haja um organismo público que, um ano depois, confronte as previsões com a realidade. Se falharem, multe-se.

Mais interessante é perceber que, excluindo os nossos deputados, os restantes actores relevantes - institutos, imprensa e regulador - começam a convergir num conjunto de ideias bastante sensatas. A primeira é a necessidade de mudar a legislação de forma a corrigir a sua falta de clareza e, nalguns casos, os seus erros técnicos, de que Vidal de Olveira deu alguns exemplos no dia 14 à tarde. A segunda é a ideia de que se deve clarificar quais os elementos técnicos da sondagem que devem ser obrigatoriamente divulgados pelos órgãos de comunicação social nas noticias sobre sondagens e quais devem ser publicitados de outra forma, seja através de um site da ERC, dos sites do órgãos de comunicação social ou dos próprios institutos.

Mais: que esses elementos mais completos da ficha técnica devem ser muito mais exaustivos do que são hoje e homogeneizados (para permitir comparabilidade). Aquilo que é depositado na ERC (e que é muito mais completo do que o que vem normalmente na comunicação social) deve ser mais completo e sistemático ainda e totalmente colocado ao dispor do público, para que os leitores interessados possam conhecer tudo aquilo que pode ajudar a explicar os resultados (e, logo, para que quem faz sondagens saiba que aquilo que está a fazer pode ser publicamente escrutinado e analisado pelos pares, especialistas e quaisquer pessoas interessadas). O resto é algo que o debate, a análise e a concorrência acabam por resolver. Aqui, é possível que alguns institutos venham a colocar resistências a esta ideia, alegando usar técnicas ou algoritmos "especiais", da sua própria "invenção", que constituem "tecnologia proprietária" e que não querem "ceder" à concorrência. Estas resistências têm que ser descritas como aquilo que realmente são: disparates algo suspeitos. Não há nada que qualquer instituto de sondagens use em Portugal que não tenha sido já "inventado", aplicado, testado, comentado e analisado noutro sítio qualquer. E se alguém tivesse realmente "inventado" alguma coisa genial, certamente já teria feito saber disso na literatura especializada.

Finalmente, começa a haver consenso em torno da necessidade de formas de co-regulação ou auto-regulação. E é curioso que seja o próprio regulador a desejar e estimular essa ideia. No relatório da ERC de 2006, os dois exemplos internacionais dados são de órgãos de auto-regulação (o NCPP e o BPC) e, no encerramento da conferência, foi o próprio membro da ERC com a tutela das sondagens que defendeu a ideia. Tudo bons sinais.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Popularidade

Tenho andado desleixado, mas aqui está, com as últimas sondagens Marktest e Eurosondagem. Não há novidades, pelo que isto é só para memória futura. Quanto a Menezes, ainda é cedo.




terça-feira, novembro 13, 2007

Outlier: Panda Bear

Vocês desculpem todos que eu devo andar completamente distraído. E também devo andar bastante farto de sondagens, caso contrário não traria este assunto para aqui. Mas andava muito entretido a ouvir isto quando me fizeram saber que ele vive em Lisboa. Em Lisboa? Isto é como viver em 1966, andar a ouvir o Pet Sounds e encontrar o Brian Wilson a comer torradas num café em Campo de Ourique. Ainda estou a tentar encaixar a coisa.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Gattopardo, Outubro-Novembro 2008, N à volta dos 1000, Online

O Instituto de Sondagens Político-Eleitorais do Principado de Lampedusa resolveu conduzir uma sondagem online sobre o Tratado de Lisboa. Tal como sucede com todas as sondagens online de participação voluntária, esta também diz mais sobre os autores do que sobre outra coisa qualquer. O facto das opções de resposta serem oferecidas em rima - ideia que tenho vindo a ponderar para as sondagens da Católica - é um primeiro sinal. Depois vêm os próprios resultados, consequência do perfil dos leitores do blogue e logo, de alguma forma, espelho dos autores: a tendencial recusa das opções extremas ("Admirável" ou "Inaceitável") e a distribuição mais ou menos equitativa pelas opções restantes. Mas o melhor de tudo é mesmo o facto das opções de resposta oferecidas aos votantes não serem sequer mutuamente exclusivas. É um erro elementar na construção dum questionário, claro. Mas é acerto elementar em, digamos, tudo o resto. Aliás, foi disso que sempre gostei nos responsáveis deste instituto: para eles, as opções de resposta nunca são mutuamente exclusivas. Acho até que Pascal tinha uma frase boa sobre este assunto (e sobre todos os outros, de resto).

segunda-feira, novembro 05, 2007

Sobre os rankings e o "cheque-escolar"

No Público de ontem, sobre os rankings, para além de ser provavelmente o primeiro colunista na história da imprensa escrita a usar a expressão Hierarchical Linear Modelling num jornal de grande circulação, André Freire diz o óbvio, mas um óbvio que vale a pena repetir:

Penso que é preciso ultrapassar este nível de discussão (até agora baseado numa troca de argumentos sustentada, na melhor das hipóteses, numa análise metodologicamente insuficiente dos dados) para passarmos a um debate alicerçado em evidência empírica avaliada com as metodologias adequadas.

Mas importa perceber o que significa "ultrapassar este nível de discussão". Em primeiro lugar, como assinala o próprio André Freire, significa que é imperioso recolher dados a nível individual de forma a que as "causas" (na medida em que qualquer estudo observacional possa apurar causas) do desempenho escolar individual, em particular as ligadas ao ambiente escolar, possam ser estimadas controlando os efeitos de variáveis ligadas ao capital escolar e económico dos pais.

Em segundo lugar, significa também perceber que os efeitos desse capital escolar e económico são, em certo sentido, triviais. É obvio que eles existem e estão mais do que demonstrados. Mas no que diz respeito às políticas públicas, esses efeitos são tão desinteressantes como os efeitos, por exemplo, do desenvolvimento económico na estabilidade dos regimes democráticos. Ou para irmos mais directamente ao tema, são quase tão desinteressantes como os efeitos das capacidades cognitivas inatas (que também existem) dos alunos no seu desempenho escolar. Aquilo que queremos saber é que outros factores, cuja modificação a curto e médio-prazo esteja ao alcance da vontade dos educadores, dos pais, das escolas e dos decisores políticos, exercem efeitos para além e independentemente (ou em interacção com) esse capital escolar e económico ou essas capacidades inatas. É verdade que - voltando ao ponto anterior - só podemos saber que factores são esses se controlarmos os efeitos do capital escolar e económico das famílias (e seria bom termos medidas de capacidades inatas, mas como provavelmente nao podemos em contextos não experimentais, o que teremos no final é muita variância não explicada). Mas o ponto é este: se é verdade que essas variáveis de controlo não podem ser esquecidas, também não se pode pressupor que tudo é subsumido por elas. É preciso estudar o assunto como deve ser, e pronto.

Em terceiro lugar, ultrapassar o actual nível de discussão significa também assumir que a simples dicotomia público/privado é uma péssima e provavelmente inválida maneira de medir seja o que for de relevante sobre o ambiente escolar e os efeitos que esse ambiente pode induzir sobre o desempenho. Citando o relatório que André Freire menciona no seu artigo:

"It should be borne in mind that private schools constitute a heterogeneous category and may differ from one another as much as they differ from public schools. Public schools also constitute a heterogeneous category. Consequently, an overall comparison of the two types of schools is of modest utility."

Como deveria ser óbvio - pensava eu - o que interessa é estimar os efeitos de atributos do ambiente escolar - condições físicas e materiais, práticas educativas, currículos, etc, etc, etc - que podem ou não estar correlacionados entre si ou com a dicotomia público/privado. Se não estimarmos os efeitos destes aspectos, não ficamos a saber nada de relevante no final. "Privado melhor do que público"? "Público não é pior que privado"? Frases úteis para discussões puramente ideológicas, inúteis para tudo o resto.

Em quarto lugar, ultrapassar o actual nível de discussão significa também pressupor que os bons modelos explicativos do desempenho escolar serão certamente muito complexos, incluindo efeitos de interacção entre características individuais, efeitos de características contextuais sobre desempenhos individuais e efeitos de interacção entre contextos e atributos individuais. Dou um exemplo: é quase garantido que uma das coisas que mais deverá potenciar o bom desempenho dos alunos de escolas altamente selectivas no seu recrutamento é não apenas o facto de cada um dos alunos estar mais bem equipado para o sucesso escolar mas também o facto das turmas onde esses alunos estão serem compostas por um conjunto de alunos homogeneamente bem equipados para o sucesso. O primeiro efeito é individual; o segundo é contextual.

Disto isto, um ponto adicional sobre o cheque-escolar. Independentemente da minha opinião sobre o assunto - que confesso ainda não sei bem qual é - suspeito que a ideia tem muito menos receptividade entre os proprietários e dirigentes das melhores escolas privadas portuguesas do que aquilo que os defensores da ideia imaginam.

Primeiro, porque a introdução do cheque-escolar poderia levar ao que acabou por suceder na Suécia, ou seja, a proibição de cobrança, pelas escolas privadas, de mensalidades adicionais acima do valor do voucher (em moldes semelhantes, por exemplo, aquilo que defende o Partido Conservador no Reino Unido). Para as melhores escolas privadas portuguesas, que têm procura muito superior à oferta e cobram mensalidades muito superiores àquilo que o valor do "cheque-educação" alguma vez poderá ser no contexto português, uma medida destas seria um desastre.

Segundo, a introdução do voucher quase certamente obrigaria a regulação e monitorização dos critérios de admissão. Tal como sucedeu na Suécia, as escolas inscritas no esquema deixariam de poder recusar a admissão de alunos menos qualificados. Isto seria igualmente desastroso para as melhores escolas privadas portuguesas. Por um lado porque, como já vimos, é altamente provável que a homogeneidade das turmas "por cima" seja um factor favorável não só - como é óbvio - para o desempenho "agregado" das escolas (que essas escolas querem manter a altos níveis de forma a preservarem altos níveis de procura) como também para o desempenho individual de cada um dos alunos. Por outro lado, uma das maneiras como as melhores escolas privadas colocam um "premium" adicional ao produto que estão a vender consiste em restringir os critérios de admissão através de "cunhas". Como qualquer pessoa de classe média-alta que tenha filhos em idade escolar (ou que tenha amigos nessas condições) sabe perfeitamente, são raríssimos os casos de alunos que entram nos melhores colégios privados em Portugal sem "cunha" (talvez o St. Julian's seja a excepção, mas nem disso estou certo). Isto cumpre uma função essencial: preservando a homogeneidade social dos colégios através de um recurso às redes sociais dos pais, estes ficam a saber que, ao colocarem o filho no colégio, estão também a dar-lhe acesso a uma rede de relacionamentos que traz consigo uma coisa simples mas fundamental: capital social. Os vouchers colocariam isto em risco, e isto é algo que nenhum bom colégio privado (nem os pais que os procuram) querem realmente perder. É triste? Talvez. Mas é assim.

quarta-feira, outubro 31, 2007

"Centro de Estudos da Universidade Católica"

Têm circulado muitas notícias sobre um trabalho realizado por um" Centro de Estudos da Universidade Católica" para o Instituto Nacional de Administração, que analisa percepções e opiniões de cidadãos com idades entre os 30 e os 39 anos residentes em Lisboa e no Porto e de dirigentes da administração pública sobre o serviço público. Para que não haja confusões, que fique claro que o Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica (CESOP), que dirijo, e de que normalmente se fala quando se trata de sondagens de opinião, não esteve envolvido neste trabalho. O "Centro de Estudos" mencionado pela comunicação social neste caso é outro, e o trabalho de recolha e análise de dados foi conduzido por um empresa chamada APEME (que por acaso conheço bastante bem).

terça-feira, outubro 30, 2007

"Why beautiful people have more daughters"

A propósito deste livro - mencionado no Blasfémias - onde se defende, entre outras coisas, "que a biologia humana teria evoluído no sentido de as pessoas mais atraentes gerarem mais filhas do que filhos" (ou que os homens com maiores níveis de rendimento têm mais sexo, ou que os engenheiros têm mais filhos que filhas), vale a pena vale a pena ler este post (e este artigo ou este). Há ideias tão irresistivelmente intrigantes que mesmo a sua falta de sustentação empírica não constitui obstáculo à sua propagação.

segunda-feira, outubro 29, 2007

O referendo europeu

O que eu acho sobre este assunto está hoje no Público e estará amanhã aqui. Mas não queria deixar de assinalar duas coisas:

1. A citação que mais circula do PM sobre este assunto é a seguinte: "a ratificação pelo Parlamento é tão válida quanto a ratificação por referendo". Mas queria chamar a atenção para o resto:

"Também compreendo todos os que acham que foi feita uma promessa por dois partidos de que haveria referendo, embora as condições sejam muito diferentes"

Ou seja:
a. Para o PM, ter havido ou não promessa é uma questão subjectiva ("os que acham que foi feita uma promessa");
b. O PM tem compreensão por essas pobres almas iludidas;
c. "As condições são muito diferentes".


2. Um quadro de um artigo de Russell Dalton e outros publicado no Journal of Democracy:



É muito curioso - e em rigor pouco surpreendente - que o apoio tenda a ser maior nos países que têm menos referendos do que nos países que os mais têm...

sexta-feira, outubro 26, 2007

Marktest, 16-19 Outubro

Comparar resultados de diferentes institutos de sondagens entre si é perigoso, tendo em conta todas as diferenças metodológicas, desde a amostragem, à formulação das perguntas e respostas possíveis, ao modo de inquirição, métodos diferentes de redistribuição de indecisos, etc. Mas há apesar de tudo boas notícias para quem gosta de ver resultados relativamente congruentes entre diferentes sondagens:

1. A descida no PS detectada desde Maio pela Católica é congruente com os resultados da Marktest. Desde Maio, a estimativa de resultados eleitorais para o PS na Marktest desceu de 47% para 37% (de 46% para 41% na Católica);

2. Igualmente congruente é o facto de Sócrates aparecer com um saldo negativo de 21 pontos no barómetro Marktest: 54% avaliam negativamente a sua actuação, enquanto 33% fazem-no positivamente. Este é o pior resultado de sempre para o PM no barómetro Marktest, rivalizando apenas com os resultados de Setembro de 2005. Para a Católica, a avaliação média de 0-20 pontos feita pelos eleitores de Sócrates (8,9 valores) na sondagem mais recente é também a pior de sempre.

3. Menezes aparece comparativamente bem colocado na sondagem da Católica, com uma avaliação média de 9,9 pontos em 20. Na sondagem Marktest, aparece com um saldo de 2% (quase tantas pessoas a fazerem uma avaliação negativa como as que fazem uma avaliação positiva). Mais parecido, apesar do uso de perguntas e escalas distintas, seria difícil.

E se foram verificar a hierarquia dos ministros verão que, apesar dos instrumentos de medida serem diferentes, as semelhanças são muito claras.

Nunca se sabe se até que ponto os resultados de uma sondagem concreta podem ser fruto do acaso, mas isto deixa-me muito mais descansado. E outra coisa que me descansa, no que respeita à popularidade do Primeiro Ministro, é que, pelos vistos, o mundo não é completamente imprevisível.

CESOP, 20-21 de Outubro

Os dados fundamentais da sondagem da Católica estão no JN. Destacaria dois resultados. O primeiro é uma má notícia para o governo; o segundo é uma má notícia para o PSD.

1. O declínio da popularidade do governo e do Primeiro Ministro e a descida do PS nas intenções de voto. Pela primeira vez nos estudos da Católica, Sócrates não é o líder partidário com melhor avaliação por parte dos eleitores. Piora a avaliação de todos os membros do governo desde o último estudo (Maio de 2007) - com a excepção de Luís Amado- e não há ministros que mereçam, na média dos eleitores que os dizem conhecer, uma avaliação positiva. Finalmente, o PS desce nas intenções de voto.

A minha interpretação do fenómeno é ligeiramente diferente daquela que é feita nas páginas do JN, onde se sugere que é a descida do PS que "arrastou José Sócrates na queda". É muito mais provável que estejamos a observar o fenómeno inverso. As intenções de voto são influenciadas por muitos factores de curto prazo, mas também por coisas que mudam pouco e devagar : simpatia partidária e posicionamento ideológico, por exemplo. Logo, sendo muito difícil estabelecer relações de causa e efeito e fenómenos como este e com este tipo de dados, é muito mais plausível que seja a degradação da imagem do governo e do Primeiro-Ministro que esteja a "arrastar o PS na queda" do que o inverso. De resto, a queda do PS, sendo real, é também mitigada, não só porque é sustida por predisposições de longo-prazo dos eleitores mas também pela percepção de que a oposição não se constitui (ainda?) como real alternativa.

2. Uma clara maioria deseja um referendo ao Tratado. Como imaginam, a minha surpresa é nula. O que não imaginava é que a diferença entre os núcleos duros dos eleitorados do PS e do PSD fosse tão clara. Enquanto que os simpatizantes do PSD se repartem da mesma forma que o eleitorado em geral, os simpatizantes do PS estão divididos.

Notem-se as implicações disto. Por um lado, se Sócrates optar contra o referendo, vai ter menos trabalho que Menezes a convencer o seu eleitorado da inconveniência da coisa. Por outro lado, se Sócrates decidir, afinal, ir para a frente com o referendo*, o PSD entra em curto-circuito: em vez de concordar com a posição do líder do partido, a maioria dos eleitores do PSD fica de acordo com a liderança do partido adversário. O que confirma, claro, a validade de uma das regras básicas na política e na vida: é sempre melhor ficar calado do que falar cedo demais.

*Mas note-se que, claro, quem "decide" não é Sócrates...

quarta-feira, outubro 24, 2007

Outlier: o essencial e o acessório

Verifico que há quem esteja disponível para defender James Watson, apesar do seu racismo, porque isso pelos vistos serve para atacar os perigosos excessos do "politicamente correcto". Verifico também que há quem tenha desenvolvido um inesperado apreço pelos gémeos Kaczynski, apesar de terem sido responsáveis por regulares atropelos a algumas regras bastante elementares da democracia no seu país, simplesmente porque isso dá jeito para atacar o défice democrático da União Europeia, os excessos do tratado, a eurocracia e mais não sei o quê. E estes são os casos mais recentes, mas não muito diferentes, por exemplo, dos admiradores do actual presidente da Venezuela cuja principal (para não dizer única) explicação para a sua condição de fãs é o facto do homem "mandar vir com o Bush" (para citar um taxista que me transportou há umas semanas atrás, que isto dos taxistas, afinal, é um bocado mais complicado do que eu imaginava).

Na maior parte dos casos, estas parvoíces são completamente inofensivas. Mas quando acontecem em grande escala podem ser verdadeiramente deprimentes. Julgo que a última vez que isso sucedeu foi quando muitas pessoas que eu pensava serem bastante decentes defenderam a administração Bush e a invasão do Iraque, muito para além do que a simples racionalidade ainda admitia, porque isso lhes era conveniente para atacar a "complacência com o terrorismo" e o "anti-americanismo primário" de meia-dúzia de esquerdistas avulsos. Subordinando assim o essencial - aquilo que nos une como pessoas decentes- ao acessório - a possibilidade de ganhar uns feijões na luta contra adversários políticos domésticos, muitos deles politica e socialmente irrelevantes e alguns deles pura e simplesmente imaginários. Mas eu quero crer que tudo não passa de uma espécie de tique. Eles sabem que é estúpido e até queriam parar, mas é mais forte que eles. Haja paciência.

terça-feira, outubro 23, 2007

Truthiness


Os números de Stephen Colbert, na primeira sondagem: menos de 1% nas primárias do Partido Republicano, mas 2,3% nas primárias do Partido Democrata, à frente de Bill Richardson, Dennis Kucinich e Mike Gravel. A brincar, a brincar...

segunda-feira, outubro 22, 2007

Polónia

Três boas notícias da Polónia, para o meu gosto, pelo menos:

1. A derrota do PiS, dos gémeos Kaczynski.

2. O aumento da participação eleitoral, de 40 para 55 por cento, o que terá ajudado à precisão das sondagens pré-eleitorais.

3. A exclusão do parlamento, através de uma cláusula-barreira de 5%, da "Liga das Famílias Polacas" (ultraconservador e nacionalista) e da "Auto-Defesa da República da Polónia" (proteccionista e isolacionista).

Não se sabe ainda se a Plataforma Cívica terá maioria absoluta ou se precisará de fazer uma coligação com o Partido Popular Polaco. E importa não esquecer que um dos Kaczynski continua a ser o Presidente da República. Vai ser um teste interessante para o semipresidencialismo polaco.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Contaminações

Antes de mais, para não fazermos de conta que há discussões bacteriologicamente puras:

1. Pessoalmente, gostaria que o tratado ontem acordado fosse referendado, como penso que já se depreendia do último parágrafo disto;
2. Se houver referendo, a minha inclinação (não definitiva) seria a de votar a favor da sua ratificação.

Agora a discussão: Pacheco Pereira (JPP) preferia que as sondagens sobre se o tratado ontem acordado deveria ou não ser submetido a referendo tivessem tido lugar antes do acordo de ontem. Segundo JPP - espero estar a interpretar correctamente - o facto do acordo ter sido obtido (e todo o folclore patrioteiro que temos visto) "inquina" os resultados, impedindo que possamos obter uma medida mais "limpa" das atitudes dos eleitores. Também segundo JPP, dizer-se que é preferível fazer a sondagem depois do tratado "existir" é um argumento falacioso, porque o tratado já "existe" há muito tempo nos seus aspectos fundamentais.

Ora bem:

1. Não duvido que o "facto consumado" venha a afectar os resultados. Mas o que queremos realmente saber da opinião pública portuguesa: aquilo que os portugueses desejavam antes do acordo ter sido conseguido, ou aquilo que desejam depois do acordo? Em rigor, quereríamos saber ambas as coisas, até para podermos medir o efeito da obtenção do acordo (e de todo o folclore, etc.). Mas não tendo sido possível mobilizar recursos financeiros para fazer duas vagas da sondagem (ou mesmo um painel, que teria sido o ideal), então acho que, se tivesse de escolher (e tive), é preferível depois. "Depois" é, afinal, a "realidade". É aquilo que se passou. É aquilo com que todos, oponentes e apoiantes do referendo, oponentes e apoiantes do tratado, temos de lidar daqui para frente.

2. Faço assim notar que a minha preferência pelo "depois" nada tem a ver com o conteúdo do tratado, desconhecido, antes e depois (pelo menos a curto prazo, e provavelmente a longo), da esmagadora maioria dos europeus. Defender o contrário seria, concordo, uma falácia, mas não é o conteúdo do tratado que interessa a este nível: é o seu significado político, do qual, para o bem e para o mal, faz parte o acordo obtido ontem em Lisboa.

3. Dito isto, estaremos cá para ver, mas não creio que vá fazer grande diferença fazer a sondagem antes ou imediatamente depois. Como quis fazer notar na primeira parte deste post, o apoio aos referendos é generalizado, certamente antes e provavelmente nos próximos dias. Mais interessante será saber como irão os eleitores reagir à discussão que se seguirá, e em particular às mensagens que vão receber dos líderes partidários sobre a conveniência ou inconveniência do referendo. Vai ser, aliás, um teste interessante à capacidade dos partidos para persuadirem os eleitores, caso se verifique que, na comparação entre as opiniões dos próximos dias e as opiniões das próximas semanas, existem diferenças significativas, e que esses diferenças estejam correlacionadas com coisas como a identificação partidária, por exemplo.

Ainda sobre referendos

1. Vale a pena ler, para quem tiver acesso à B-On, este artigo saído no mês passado, de Shawn Bowler, Todd Donovan e Jeffrey Karp, onde se mostra, entre outras coisas, como o apoio à democracia directa como forma de tomar decisões políticas é esmagador nas democracias industrializadas.


Mostra-se também no artigo como esse apoio não vem apenas das pessoas mais desencantadas com o funcionamento da democracia representativa. Ele vem ainda mais, simplesmente, da parte das pessoas que se interessam mais pela política e desejam mais oportunidades de participação, sem necessariamente exibirem maiores níveis de desconfiança em relação ao sistema político.
Logo, há determinadas interpretações que convém não fazer dos resultados desta sondagem. Não creio que haja uma predisposição especial para referendar o tratado hoje aprovado. O que há é um apoio generalizado ao instituto do referendo, para este tratado e tudo o resto. E não parece que haja um apoio ao referendo baseado na desconfiança em relação às elites políticas. O que há, pelo menos tanto como essa desconfiança, é vontade e interesse em participar. O problema é se as elites começam a dar a ideia de que "conspiram" para impedir essa participação....

2. Para fazer a vontade a Pacheco Pereira, a sondagem da Católica que vai para o campo neste fim de semana coloca a questão. Estou a brincar: o questionário estava preparado desde a semana passada. Quanto ao "inquinado", é relativo. O que é mais realista e com consequências para o futuro: saber se se deseja o referendo a um tratado antes ou depois dele existir?

quinta-feira, outubro 18, 2007

Referendo

Salvaguardando o facto de, quando questionados em sondagens, os eleitores de todos as democracias desejarem maioritariamente submeter todos os assuntos a referendos, isto não é, apesar de tudo, propriamente irrelevante:

Voters in five EU countries want treaty referendum - poll
LONDON (Thomson Financial) - A substantial majority of voters in five large European Union countries want a referendum on the bloc's new reform treaty, according to a poll published Thursday. The Financial Times/Harris survey showed that 70 pct of respondents in Britain, France, Germany, Italy and Spain wanted a vote on the new treaty, with 20 pct saying one was not necessary, with 10 pct unsure. It comes as EU leaders are set to kick off a two-day summit in Lisbon today, where they hope to reach agreement on a final draft of the treaty, which critics allege is essentially the same as the moribund constitution, which was torpedoed in 2005 by 'no' votes in France and the Netherlands. According to the poll, 76 pct of Germans, 75 pct of Britons, 72 pct of Italians, 65 pct of Spaniards and 63 pct of French wanted a referendum on the treaty.

As eleições na Polónia

As indicações existentes sobre o que pode vir a acontecer no próximo Domingo são muito contraditórias. Na sondagem PBS DGA conduzida no dia 11, o PiS dominava nas intenções de voto, com uma vantagem de 5 pontos. Mas cinco dias depois (dia 16), a Plataforma Cívica aparece com uma vantagem de 5 pontos sobre o PiS. Há quem ache que isto reflecte uma mudança real, devida a vitória de Donald Tusk no debate televisivo com Jaroslaw Kaczynski. Mas o problema, claro, é que, com uma abstenção que não deverá ser muito inferior aos 60%, a tradicional dificuldade das sondagens em distinguir votantes provaveis de votantes improváveis e abstencionistas produz grande volatilidade nas intenções de voto.

As consequências disto, contudo, já são visíveis. Kaczynski, que sexta-feira passada achava que a cimeira informal de Lisboa ia ser "um sucesso", já disse ontem que "não quer nada mais do que aquilo que são os direitos da Polónia" e que se as "exigências da Polónia" não forem satisfeitas o melhor será "adiar a discussão".

P.S. - Só agora é que reparei que os gémeos têm o mesmo apelido que este.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Ainda sobre a "nova Constituição" (2)

Subscrevendo isto, um ponto adicional. Há qualquer coisa de errado - não sei se comigo se com a agenda política portuguesa - quando os assuntos do dia se podem comentar todos com auto-citações de coisas antigas. Aqui vai mais uma, pedindo as vossas desculpas:

"Questions of institutional design have the extraordinary benefit — from the point of view of political elites — of dramatically increasing the asymmetry of information between voters and elites. They involve highly complex technical issues, thus reducing the size of the audience capable of understanding the implications of extant rules and proposed changes. The vagaries of the German and other mixed electoral systems, the implications of comparative semipresidentialism, the internal organization of parliament, the judiciary or the public prosecution, the modalities of judicial review of legislation – all these are all highly complex technical matters that promptly produce an irresistible urge on the part of common citizens to change to a different TV channel or — for those very few who do read political news in newspapers— skip to a different newspaper article. On the other hand, changing any of these institutional features requires the agreement of, at least, the two main political parties in parliament, since most of these rules are protected by supermajority procedures. This allows parties to easily shift blame for the inability to produce the proposed institutional reforms, pointing out the opponent’s devious (but publicly unverifiable) purposes behind advancing or refusing changes whose implications are understood, in reality, by virtually nobody.

Thus, by framing the (in)ability to achieve substantive political outcomes in terms of the (in)ability to change institutional variables, parties are able to reap important electoral advantages: citizens’ doubly lack the necessary knowledge to hold parties accountable, both because the fail to understand the implications of extant rules and their proposed changes and because they have enormous difficulties in assigning responsibility for those changes or the lack of them. All this, in my view, endangers neither the stability of democracy in Portugal nor its fundamental public legitimacy. However, it allows parties and governments to deviate attention from their policy failures, shifting it to domains where electoral accountability is made more difficult for citizens. It creates false and recurrently frustrated public expectations about the power of institutional changes to produce substantive political outcomes. And it contributes to reinforce the already large divide between the political agenda and the actual concerns of common citizens in Portugal. In other words, the permanent contestation around most aspects of the institutional framework of Portuguese democracy may constitute a threat to the quality of democratic rule. "


In: "The institutional framework of the transition to democracy in Portugal", in Marietta Minotos (org.), The transition to democracy in Spain, Portugal and Greece, thirty years after. Athens: Karamanlis Foundation, 2006.

terça-feira, outubro 16, 2007

Ainda sobre a "nova Constituição"

José Manuel Fernandes (de quem me considero amigo, para se perceber já que não há aqui maus fígados), no editorial de hoje no Público, acha que, apesar das sucessivas revisões, "muitos dos pontos da nossa Constituição são programáticos", dando como exemplo o facto de nela se estabelecer um"serviço nacional de saúde universal e geral (...) tendencialmente gratuito" ou "progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino", ou ainda que é direito das comissões de trabalhadores "exercer o controlo de gestão nas empresas". JMF critica estas disposições, afirmando que "uma Constituição deve estabelecer regras, não fins a atingir; deve "tratar sobretudo dos meios e não dos fins".

Não quero entrar na discussão - que domino mal - entre "direitos positivos" e "direitos negativos", sobre que normas são realmente "programáticas", ou sobre as vantagens e desvantagens da inclusão de direitos económicos e sociais numa Constituição. Nem espero ter grande sucesso a vender a minha posição, porventura demasiado "pós-moderna" para muitos gostos: a de que a distinção entre aquilo a que JMF chama "regras" (digamos, os direitos políticos liberais básicos, os direitos que servem como pré-condições para uma economia de mercado e as regras que regulam o funcionamento das instituições políticas) e aquilo a que chama "fins" (suponho, tudo o que tenha a ver com direitos económicos e sociais) é muito problemática. É uma distinção a-histórica, ignora que aquilo que é hoje descrito como "regra" foi historicamente (e em rigor continua a ser) um "fim", que nenhum direito é absoluto (incluindo os direitos cívicos) e que todos exigem acção do estado para serem implementados.

Não. Vou só perguntar o seguinte: como é que JMF consegue compatibilizar a sua argumentação com a última frase do editorial?

"Finalmente, por que não assumir que a geração de hoje não pode endividar-se pela geração de amanhã, limitando na lei fundamental os défices públicos a todos os níveis?"

Se estabelecer limites constitucionais ao défice não é "programático" ou um "fim", então já não sei falar português. Por que será assim tão difícil dizer-se que aquilo que se deseja é uma Constituição que favoreça a prossecução de determinados fins em vez de outros, em vez de fazermos de conta que umas regras são neutras e outras não? Assim é que era bonito para nos entendermos todos.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Mais outliers

1. Parece que o valor médio pago por In Rainbows, dos Radiohead, é oito dólares. Por esta altura, o total pago já deverá andar pelos 10 milhões de dólares. Um artigo de ontem no NYT comparando isto com a economia das gorjetas.

2. Mais um Nobel da economia para a teoria dos jogos, depois dos de 1994, 1996 e 2005.

3. É "verdade". Uma mania um bocado parva. A ver se me curo.

Outlier: Menezes e o TC

Menezes retoma uma das propostas que a magistratura judicial faz tradicionalmente desde 1982 sobre a jurisdição constitucional em Portugal:

Mais polémica poderá ser a sua proposta de extinguir o Tribunal Constitucional: "Um TC que é conhecido por resultados 7/6 ou 6/7 quando uma dada maioria parlamentar está em funções não prestigia aquilo que é a sua arquitectura".O presidente do PSD defende por isso uma "discussão nacional ampla" e defende que seja o Supremo Tribunal de Justiça "com magistrados profissionais" a "analisar de forma mais isenta a constitucionalidade das leis em Portugal".

O meu comentário, escrito há cinco anos:

"Na verdade, há democracias onde a fiscalização da constitucionalidade das leis, quando existe, é concedida exclusivamente aos tribunais comuns. Contudo, importa notar que esses supremos tribunais se parecem muito pouco com os nossos, sendo, em regra, escolhidos por órgãos políticos (tal como sucede com o Supremo Tribunal nos Estados Unidos). Logo, transferir os actuais poderes do TC para o STJ colocar-nos-ia numa posição absolutamente singular no panorama internacional. Ser-se original não é pecado. Mas cabe aos proponentes dessa ideia explicar por que razão deverá o enorme poder de contrariar a vontade das maiorias parlamentares ser concedido a juízes politicamente irresponsáveis e cujos méritos técnico-jurídicos nestas matérias estão longe de se poderem dar como adquiridos. Afinal, a opacidade do funcionamento interno do poder judicial em Portugal, a negligente aplicação de critérios de mérito na progressão na carreira e o permanente impedimento à entrada de não-juízes nos tribunais superiores são as melhores razões para que, ao contrário de José Marques Vidal, não possamos ver o Tribunal Constitucional como 'um luxo desnecessário'."

E estou um bocado desapontado: não se arranja uma brincadeira mais original para fazer com a Constituição? Que tal mudar o parlamento para Gaia e o TC para Ílhavo? Isso é que era giro.

terça-feira, outubro 09, 2007

Iowa

Já vimos aqui como tudo se encaminha para que Hillary seja a candidata do Partido Democrata. Mas vimos também como tudo pode mudar de repente: em 2004, Dean era o favorito, mas as vitórias de Kerry nas primárias de Iowa e New Hampshire mudaram tudo.

Como está então Hillary nestes dois estados cruciais? Bem, depende. Em New Hampshire, Clinton tem grande vantagem nas sondagens. Mas em Iowa, a coisa não é exactamente assim. Só desde Agosto começou a aparecer consistentemente em 1º lugar, e mesmo assim com uma vantagem reduzida. Acresce a isto que o "Iowa caucus" é muito diferente das outras primárias propriamente ditas (ver aqui para uma explicação), tornando as sondagens num indicador menos fiável do que pode suceder. Obama e Edwards estão em máxima mobilização no Hawkeye State: é a última oportunidade que têm para impedir o que parece inevitável.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Polónia, 4

Os gémeos descolam? Depois da incerteza e confusão nas sondagens mais recentes, há um primeiro sinal claro de que o PiS ganha vantagem:

Angus Reid Global Monitor - The governing Law and Justice Party (PiS) could remain the top political group in Poland after this month’s ballot, according to a poll by PBS DGA published in Gazeta Wyborcza. 36 per cent of respondents would support the conservative PiS in the election, up six points since mid-September.
The opposition Civic Platform (PO) is second with 31 per cent, followed by the Left and Democracy (LiD) coalition with 16 per cent, the Self-Defence of the Polish Republic (SRP) with six per cent, the Peasant’s Party (PSL) with five per cent, and the League of Polish Families (LPR) with three per cent. Under the country’s proportional representation system, a party must receive at least five per cent of the vote—and a coalition at least eight per cent—to elect members.

Brown e as eleições

Uma das discussões da semana foi a de saber se Gordon Brown iria ou não convocar eleições no Reino Unido, tendo em conta o que parecia ser um conjunto de sondagens vantajosas desde a saída de Blair mas um suposto "big turnaround" em favor dos Conservadores nos últimos dias.

A decisão é conhecida: não haverá eleições. É certo que os dados agregados não autorizam (ainda?) a ideia de um qualquer "big turnaround". Utilizando como fonte o arquivo de sondagens do excelente UK Polling Report, a aplicação de uma regressão local aos resultados sugere que as últimas sondagens estão longe de terem o peso suficiente para, de forma estatisticamente significativa, sugerirem uma inversão da tendência de subida dos Trabalhistas que se iniciou desde o abandono de Blair.

Contudo, eles lá saberão o que estão a fazer. A análise do que sucede nos círculos em concreto é potencialmente mais útil do que os resultados agregados a nível nacional: basta uma medida como a recentemente proposta pelos Conservadores, de eliminação parcial do imposto sucessório (particularmente atraente nos prósperos "shires"), para que as perdas dos Trabalhistas, em vez de se reflectirem uniformemente a nível nacional, se concentrem em círculos mais disputados e os façam perder esses círculos. De facto, parece que foi isso mesmo que sucedeu: a decisão de Brown terá sido influenciada por sondagens conduzida em círculos eleitorais particularmente disputados e vulneráveis. E se assim foi, foi uma jogada de mestre de David Cameron.

sexta-feira, setembro 28, 2007

Directas no PSD: as sondagens

Menezes é o preferido entre os eleitores em geral, mas Mendes é o preferido por aqueles que se dizem votantes do PSD. Tudo bem. Mas daí até dizer-se que "este dado não pode deixar de ser interpretado como uma inclinação de voto para as directas de hoje" a distância é considerável. Talvez melhor dizer que "pode ser interpretado", mas é tudo menos obrigatório. Descontando a questão da pergunta usada ("estar preparado para ser Primeiro Ministro" não é a mesma coisa que perguntar em quem se votaria se se pudesse votar), é muito difícil saber se os "eleitores" do PSD são representantivos dos "militantes".

Até porque temos de saber de que eleitores estamos a falar. Por exemplo, na sondagem do DN, estamos - por aquilo que consigo entender do texto - a falar daqueles que hoje votariam PSD. Aí, Mendes ganha. Mas como é óbvio, os que votariam hoje PSD são precisamente aqueles que olham para Mendes com maior simpatia, e não necessariamente todos os eleitores habituais do PSD. Note-se o que sucede quando a sub-amostra muda, e passa a ser composta pelos que "votaram PSD em 2005" (em vez daqueles que votariam agora): nesse caso, Menezes ganha, aqui.

"Não pode deixar de ser interpretado como uma inclinação de voto para as directas de hoje"? Bem, poder até pode.

P.S.- Vale a pena ler isto sobre o assunto.
P.P.S. (29 Setembro) - Hate to say I told you so.

quinta-feira, setembro 27, 2007

Polónia, 3

Três sondagens contraditórias em poucos dias.

Uma:
WARSAW (Thomson Financial) - Poland's largest opposition party Civic Platform leads ruling party Law and Justice by two percentage points according to a poll by the Gfk Polonia agency today. Civic Platform had the support of 26 pct of voters while Law and Justice polled 24 pct, the survey, ahead of parlimentary elections on Oct 21, showed. The poll showed the Left and Democrats alliance would gain 10 pct of votes, populist party Samoobrona 5 pct and the Peasants Party (PSL) 6 pct. The poll was conducted among 974 adult Poles on Sept 21-23.

E duas:
Angus Reid Global Monitor- Poland’s right-leaning governing party has gained a significant amount of public support this month, according to a poll by SMG/KRC released by TVP. 36.1 per cent of respondents would back the Law and Justice Party (PiS) in this year’s legislative election, up nine points in a week.

E três:
Angus Reid Global Monitor - Poland’s main opposition party has gained public backing this month, according to a poll by PBS DGA published in Gazeta Wyborcza. 30 per cent of respondents would vote for the Civic Platform (PO) in the next legislative election, up four points since early September.

terça-feira, setembro 25, 2007

A inevitabilidade de Clinton...

...como candidata do Partido Democrata começa a desenhar-se. Nos dados das sondagens:


Fonte: Pollster.com

Nas apostas: ver Political Futures na Slate.

E até Bush acha que será ela a nomeada.

Mas importa não esquecer isto:


Fonte: Political Arithmetik

The disclosure project

O queixinhas que escreve neste blogue já mencionou aqui várias vezes o problema da falta de informação detalhada nas fichas técnicas nas sondagens feitas em Portugal, e até já o fez em artigos académicos. Mas para não ser só queixinhas, também já dei exemplos de boas práticas, especialmente por parte da Marktest. E aproveito para dizer que o problema não é só nosso, longe disso. Um artigo de 2002 já abordava o problema nos Estados Unidos. E vejamos, por exemplo, o que se diz no Pollster.com de Mark Blumenthal e Charles Franklin:

Over the last few months I have written a series of posts that examined the remarkably limited methodological information released about pre-election polls in the early presidential primary states (here, here and here, plus related items here). The gist is that these surveys often show considerable variation in the types of "likely voters" they select yet disclose little about the population they sample beyond the words "likely voter." More often than not, the pollsters release next to nothing about how tightly they screen or about the demographic composition of their primary voter samples.

Why do so many pollsters disclose so little? A few continue to cite proprietary interests. Some release their data solely through their media sponsors, which in the past limited the space or airtime available for methodological details (limits now largely moot given the Internet sites now maintained by virtually all media outlets and pollsters). And while none say so publicly, my sense is that many withhold these details to avoid the nit-picking and second guessing that inevitably comes from unhappy partisans hoping to discredit the results.


Do pollsters have an ethical obligation to report methodological details about who they sampled? Absolutely (and more on that below), and as we have learned, most will disclose these details on request as per the ethical codes of the American Association for Public Opinion Research (
AAPOR) and the National Council on Public Polls (NCPP). Regular readers will know that we have received prompt replies from many pollsters in response to such requests (some pertinent examples here, here, here and here).

(...)

So I have come to this conclusion: Starting today we will begin to formally request answers to a limited but fundamental set of methodological questions for every public poll asking about the primary election released in, for now, a limited set of states: Iowa, New Hampshire, South Carolina or for the nation as a whole. We are starting today with requests emailed to the Iowa pollsters and will work our way through the other early states and national polls over the next few weeks, expanding to other states as our time and resources allow.


These are our questions:
* Describe the questions or procedures used to select or define likely voters or likely caucus goers (essentially the same questions I asked of pollsters just before the 2004 general election).

* The question that, as Gary Langer of ABC News
puts it, "anyone producing a poll of 'likely voters' should be prepared to answer:" What share of the voting-age population do they represent? (The specific information will vary from poll to poll; more details on that below).

* We will ask pollsters to provide the results to demographic questions and key attributes measures among the likely primary voter samples. In other words, what is the composition of each primary voter sample (or subgroup) in terms of gender, age, race, etc.?

* What was the sample frame (random digit dial, registered voter list, listed telephone directory, etc)? Did the sample frame include or exclude cell phones?

* What was the mode of interview (telephone using live interviewers, telephone using an automated, interactive voice response [IVR] methodology, in-person, Internet, mail-in)?

* And in the few instances where pollsters do not already provide it, what was the verbatim text of the trial heat vote question or questions?

Our goal is to both collect this information and post it alongside the survey results on our poll summary pages, as a regular ongoing feature of Pollster.com. Obviously, some pollsters may choose to ignore some or all of our requests, but if they do our summary table will show it. We are starting with Iowa, followed by New Hampshire, South Carolina and the national surveys, in order to keep this task manageable and to determine the feasibility of making such requests for every survey we track.


Hear hear!

quinta-feira, setembro 20, 2007

Transatlantic trends

Com algum atraso, lembro que já saíram os resultados dos inquéritos Transatlantic Trends de 2007, realizados nos Estados Unidos e em vários países europeus (incluindo Portugal, com apoio da FLAD). Num post escrito há um ano, descrevi os principais resultados de 2006:

1. Aumento da percepção do "fundamentalismo islâmico" como ameaça;
2. Apoio marginal, dos lados de cá e lá do Atlântico, a acção militar no Irão; mas apoio maioritário no caso de fracasso de opção diplomática;
3. Concordância geral dos dois lados do Atlântico sobre onde se devem (e onde não se devem) colocar limites às liberdades individuais na luta contra o terrorismo; mas polarização interna nos Estados Unidos, em linhas partidárias, sobre esta mesma questão;
4. Maioria, dos dois lados, crê que não há incompatibilidade entre os valores do Islão e os valores da democracia, e que o problema é com grupos islâmicos específicos e não com o Islão como um todo;
5. Declínio no apoio em relação ao papel da NATO na Europa.

Ora bem: o que temos este ano?

1. Percepção do "fundamentalismo islâmico" como ameaça continua a aumentar;

2. Apoio da opção militar no Irão muito superior nos Estados Unidos em comparação com os países europeus, mas concordância geral com a ideia de que um Irão nuclear levará a proliferação;

3. Declínio no apoio ao papel da NATO em França, Reino Unido e Alemanha;

4. Sentimentos dos turcos em relação aos EUA e à UE continuam a "arrefecer";

5. Introduzida este ano como opção de resposta no questionário, a dependência energética aparece, cá e lá, como a maior ameaça, mais ainda que o terrorismo;

6. Portugal é um dos países onde há mais gente que:
- acha que as relações Europa/EUA são irrecuperáveis;
- acha que a China é uma ameaça económica (olá Maria José);
- apoia o papel da EU em missões de paz ;
- apoia o envio/manutenção de tropas no Afeganistão.

E muito mais. Vale mesmo a pena ler.